A força paquidérmica das palavras
No meu e-mail, chegaram três textos sobre a importância de ler e escrever
“Eu nunca havia provado os frangos apimentados de Nashville, e nunca havia me encontrado com Reese Witherspoon”, escreve Elisabeth Egan, do New York Times, na newsletter de 18 de maio enviada gratuitamente pelo jornal americano (a tradução é minha).
“Mas lá estávamos nós: ela, vestindo jeans e uma camisa azul e branca de risca de giz; e eu, vestindo alguma roupa esquecível, acompanhada de uma mala de bordo emprestada. É difícil cumprimentar adequadamente a intérprete de Elle Woods em Legalmente Loira com uma mala queimada na parte de cima (em tempo: nunca use sua bagagem como tábua de passar)”.
No texto, a jornalista relata sua relação com o clube de leitura da atriz, chamado Reese’s Book Club, focado em ler apenas obras feitas por mulheres, e que ultrapassou os clubes de leitura das apresentadoras Jenna Bush e Oprah Winfrey em volume de vendas dos livros escolhidos. Agora, Reese chega ao 100º livro, efeméride que é o motivo da entrevista.
Quando Witherspoon conta que adora ler em viagens a trabalho mas não lê quando está de férias, a jornalista reflete sobre o lugar de hobby que a leitura ocupa, mas que deixa de sê-lo para aqueles que têm no livro uma fonte de trabalho.
“O que mais me chocou em seu comentário foi o lembrete (tão óbvio que nem me dei ao trabalho de estender o assunto) de que a leitura deveria ser um hobby da mesma categoria que a música, a aquarela ou a produção de pães caseiros. Por que, então, ela se tornou um passatempo mais complicado? Por que tantos leitores se voltam aos ‘especialistas’ – grandes clubes de leitura, críticos ou o BookTok – para obter ajuda na escolha do que vão ler? Não me entenda mal: eu adoro fazer parte dessa máquina que nos abastece com indicações, e Witherspoon também, é claro. Mas ainda acredito no poder de passear os dedos por lombadas de livros em uma livraria ou biblioteca”.
O poder das palavras
Um dia antes da matéria em inglês, chegava à minha caixa de entrada um texto do Rodrigo Casarin: “Por que ainda acreditar nos livros?”. Na newsletter, o jornalista reproduz o texto que publicou em sua coluna no Uol em 22 de abril, um dia antes do Dia Internacional do Livro. Citando Natalia Ginzburg, Clarice Lispector, Jorge Luis Borges, Antonio Candido, entre outros, Casarin reflete sobre a importância dos livros nesse período em que vivemos, em que “lá fora a estupidez come solta e o dinheiro que circula no setor é pouco”.
Para Casarin, a questão está na importância da literatura mesmo neste período em que vivemos, “enquanto o mundo desmorona”. E as passagens dos grandes autores nos ajudam a refletir sobre o fato de a literatura ser uma das melhores formas de gastarmos nosso tempo de vida, tempo esse que não é dinheiro, mas pertence a nossos afetos (parafraseando Antonio Candido).
Afinal, o que seria da nossa vida sem as palavras, os sons e as cores das artes que nos (re)fazem humanos?
Na mesma semana, chegou também o texto da escritora Cleu Nacif. Intitulado “Memórias de Elefantes”, ele se propõe a recuperar uma memória da autora a fim de “resgatar os detalhes e sensações”. Após descrever lindamente sobre seu encontro com um grupo de elefantas, ela conclui acerca do exercício que acabou de realizar: “Em diferentes formas e possibilidades, resgatamos um pedaço nosso, uma conversa íntima, rompemos ou unimos, mas nela estamos presentes”.
O exercício de escrever é uma janela de ressignificações.
Meu tempo e o tempo dos outros
Na mesma newsletter em que conta sobre os elefantes, Cleu Nacif cita uma outra autora que eu também acompanho: a Vanessa Guedes, do Segredos em Órbitas. Teve uma oficina de escrita criativa voltada a arrecadar doações ao Rio Grande do Sul. Lembro-me de ter visto rapidamente que haveria essa oficina, mas não tive condições de participar. O horário seria difícil, e meu tempo anda escasso agora que voltei a dar aulas (eu não daria aula no mesmo horário, mas tinha acumulado compromissos).
Quero participar de oficinas de escrita, voltar a fazer cursos de assuntos correlatos, mas meu momento exige outras prioridades.
As tantas newsletters que eu assino fazem parte da minha busca por inspiração, por novas ideias, por debates importantes.
Sigo no meu tempo.
Outra pessoa que tem me trazido momentos de inspiração é o Michel (@mexeusss), que conheci pessoalmente no início dos anos 2000, quando era um jovem mancebo em uma viagem para uma edição do Anime Friends, e depois de muito tempo reencontrei nas redes sociais.
Agora, ele compartilha no Twitter/X e no Instagram sua experiência em escrever um livro, após tanto tempo procrastinando o sonho. De alguma maneira, é sempre um estímulo acompanhar uma pessoa como o Michel, com quem me identifico em diversos aspectos, alguns passos à minha frente. É como se tivesse alguém na piscina dizendo que a água está quentinha.
Eu estou aqui, escrevendo para você, que me lê. Em breve, devo me dedicar aos outros projetos que tenho (ou criar outro). Por enquanto, sigo neste meu próprio tempo, que espero não ser curto.
Meu artigo sobre um filme e um show
“A arte chega na emoção e atua de formas muitas vezes intangíveis. E falar de sexo ou retratá-lo com naturalidade é uma forma de romper tabus que machucam nossa sociedade”.
Escrevi lá no Cinem(ação) sobre como o filme Rivais e o show da Madonna se conectam como forças sobre a Geração Z, que parece ser mais conservadora e menos propensa a explorar sua sexualidade.
Espero que goste!
Doações seguem sendo necessárias para o RS
Uma coisa importante a respeito da tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul: a chegada de doações não pode arrefecer. Fiquei pensando nisso: muita gente faz doações quando uma tragédia é “notícia”, e depois acaba não doando mais. Por isso, reforço aqui a necessidade de continuar fazendo doações, e reitero a importância de que elas sejam vaiadas, para que diferentes organizações possam continuar ajudando quem precisa.
Sugiro a plataforma do Apoia-se: https://descubra.apoia.se/redes-solidarias
Valeu pelo diálogo, Daniel!
Adorei poder fazer parte dessa edição, Daniel, que legal! É tão massa saber que o nosso texto chegou em alguém e reverberou de alguma forma. Feliz de ter essa chance. e concordo, essa colocação sobre a leitura ir para um lugar de trabalho/obrigação é bastante paradoxal, assim como eu vivo com a escrita. Começou como um hobby e muitos anos depois, a tendo como carreira, me pego precisando descansar dela com frequência. Esse ano, inclusive, comecei a fazer aquarela, exatamente para não pensar em livros e escritas, veja só! Uma vez eu li em algum lugar que o estado de equilíbrio da natureza é também em estar com certo desequilíbrio para que os movimentos aconteçam... às vezes essa acaba sendo a nossa natureza, uma eterna busca pelo equilíbrio sendo completamente desequilibrados hahahah Enfim, também adorei a news do Rodrigo Caserim, foi uma delícia de leitura. Assim como a sua.