Congregar, agregar, juntar: o pacto de estarmos juntos
Algumas palavras sobre experiências coletivas
Estive há pouco mais de uma semana em São Paulo, onde assisti à peça “Eu de Você”, estrelada pela Denise Fraga. No espetáculo, a excepcional atriz vive diversos personagens comuns, que dividem experiências com as quais nos identificamos, sejam elas de trabalho e relacionamento, sejam vivências corriqueiras ou intensas. Ao final da peça, Denise reforça a importância do teatro: do pacto de silêncio que fazemos em uma peça, da experiência coletiva que temos ao reunirmos tantas pessoas para acompanhar uma história encenada. Não há experiência digital que supere essa vivência presencial.
A mesma experiência coletiva pode ser vivida no cinema. Infelizmente, é cada vez maior o número de pessoas que não respeitam o pacto do cinema e usam o espaço para mexer no telefone ou conversar em voz alta. No entanto, acredito que ainda há espaço para a coletividade e o respeito mútuo. Com isso, o cinema continua com seu status de templo. É sobre esse tema que Kléber Mendonça Filho comenta no documentário Retratos Fantasmas – e sobre o qual comentei em um texto recente.
Falo de teatro e cinema para terminar comentando sobre literatura. No último fim de semana, eu estive na FLIC – Festa Literária e Cultural de Itu. Estive como público, acompanhando alguns debates (e gastando algum dinheiro em livros!), e participei como mediador de uma conversa sobre clubes de leitura. Nos meus momentos de fala, com o microfone na mão, citei a peça da Denise Fraga e comentei a respeito da importância de nos reunirmos. Estar lá, naquele local (e naquele calor!), já é algo especial por si só. Compartilhar com outras pessoas a paixão pela cultura e pelos livros, presencialmente, faz com que tudo seja ainda mais especial.
E não é necessário que essas reuniões sejam grandiosas. Não é preciso que os eventos sejam enormes (como imagino que deve ter sido na última Bienal do Livro, no Rio de Janeiro). A FLIC foi um evento compacto. Algumas dezenas de pessoas se reuniram nos espaços. As tendas não eram enormes, a despeito da fama de Itu como a cidade dos exageros. Não tem necessidade. Estar em comunidade vai além dos números.
Quero refletir aqui sobre o poder a coletividade nas ações culturais. Poucas atividades individuais ou dentro de casa permitem o mesmo tipo de catarse que temos na atividade coletiva. As maiores oportunidades de crescimento pessoal estão nas relações diretas – e creio que após uma pandemia que nos distanciou, todos deveríamos estar conscientes disso.
Venho fazendo muitos cursos online recentemente, e sinto casa vez mais falta de estudar presencialmente, com a professora na frente, colegas sentados ao redor.
No centro de Itu, ocupar espaços públicos com atividades culturais tem outro significado, ainda maior. Um Mercado Municipal que já foi abandonado, ruas do centro histórico que comumente são esquecidas voltando a se fazer presentes, servindo de cenário para que as pessoas contem histórias, batam palmas, recitem poemas... é tudo importante. E repito: não há necessidade de algo grandioso. Não precisa de milhões de pessoas, de eventos grandiloquentes. Congregar é algo simples.
Vi por aí e vou indicar
📍 Cangaço Novo
Acabei não espalhando muito a palavra de Cangaço Novo por aqui, mas nunca é tarde. A série brasileira do Prime Video é um espetáculo e representa tudo de melhor que o audiovisual é capaz de produzir.
📍 Eu de Você
Que tal ir mais ao teatro? Citei a peça da Denise Fraga no texto acima, mas reforço a qualidade da peça, em cartaz no Teatro TUCA. E se não puder ver esta peça em específico, vá a outra peça. Mas vá ao teatro!
📍 Curtas do Folclore Africano
Tá lá na Netflix. Demorei para assistir, mas esta série de curtas apresenta releituras de histórias africanas, produzidas por cineastas de diversos países. Precisamos sair um pouco da nossa bolha, ver o que nos é diferente, acompanhar línguas e espaços que nem sempre chegam até nós. Então que tal assistir a filmes africanos? Aproveite que está com fácil acesso.
📍 Sex Education (temporada 4)
Comecei a ver a quarta e última temporada da série britânica de sucesso da Netflix. Lembro de quando comecei a primeira temporada da série e adorei o que vi. Agora, ela parece estar ainda mais deslocada da realidade, o que me gera um estranhamento. Não terminei os episódios, e ainda não sei qual a minha opinião, mas ela segue tendo personagens curiosos e tratando de assuntos ousados. Que bom que é a última temporada!
Lindo, como sempre! E sobre Sex Education: tô total perdida kkkk que raio de escola nova é essa