Notificações, vibrações, mensagens, trum, trum. A aparelho celular (ou telemóvel, se fores de Portugal) se tornou aquele colega de escola irritante que ficava cutucando a gente o tempo todo. Mas com um agravante: este, precisamos levar para todos os lados – é um colega de vida, para além da sala de aula.
Eu, que não acredito ter ansiedade do ponto de vista médico, percebi o quanto a presença contínua do aparelho me levava a uma produção excessiva de dopamina. Era acordar e lá estava eu, pegando o aparelho e já checando e-mails, notificações da previsão do tempo, curtidas nas redes sociais, e alguma polêmica inútil e estressante do Twitter.
Foi aí que eu decidi me afastar deste aparelho demoníaco na hora de dormir.
Na verdade, um dos fatores iniciais foi outro. Um dia, eu perdi hora após ouvir o alarme e simplesmente o desativar num esticar de braços, voltando a dormir sem cerimônias na sequência. Era preciso me levantar para desativar o triririm, ou então eu poderia perder compromissos mais sérios, que incluíam as aulas de sábado de manhã.
Mas o fato é que, junto com a decisão de me afastar do celular, veio a de deletar o aplicativo do Twitter. Eu estava deixando leituras de lado e passando tempo demais na rede social, além de passar nervoso com os temas debatidos na plataforma e seus trending topics que inúmeras vezes não saem do âmbito digital.
Eu também não sofro de insônia diariamente, mas é claro que não é incomum acordar no meio da madrugada após um sacolejo nos sonhos. E sem o celular para agarrar, eu apenas checava as horas no relógio de pulso colocado na mesa de cabeceira, e me permitia sentir um pouco de tédio. Mergulhar nos pensamentos, devaneios e reflexões.
É claro que alguns pensamentos não são bons. A gente tem muita caraminhola na cabeça que nos assusta. Mas precisamos pensar nelas, mesmo assim. Precisamos nos permitir olhar para o escuro do quarto, fechar os olhos e sentir a nossa existência. O tédio faz bem e infelizmente vem se tornando cada vez mais escasso na vida das pessoas. É por isso que indico a todos que puderem: coloque o telefone celular do outro lado do seu quarto quando for dormir. Faz um bem danado (e você está ouvindo isso de uma pessoa que já fez transferência bancária às 3h30 da manhã).
Por falar em tecnologia
Meu computador me traiu tal qual a lua à Joelma. Nesses últimos dois dias eu não consegui fazer o que queria porque o laptop no qual escrevo simplesmente não funcionava devidamente. Hoje, em pleno domingo, em plena onda de calor que assola o centro-sul do Brasil (mais uma), estou aqui escrevendo na máquina que repentinamente voltou a funcionar a todo vapor, como se nunca tivesse me deixado na mão. Parece aqueles alunos inteligentes e preguiçosos que decidem estudar apenas quando se dão conta que podem ser reprovados (porque, afinal, eu teria que transferir meu trabalho para uma outra máquina, fosse qual fosse).
E assim seguimos reféns da tecnologia.
Minhas aulas de Avançado 1, aos sábados, das 8h às 10h, ocorrem em uma das poucas salas da escola sem computador e televisão. Eu queria passar uma música aos alunos antes de fazer uma atividade sobre sufixos – The Logical Song, do Supertramp, que é cheia de magical, wonderful, beautiful, joyfully, practical, além de ser uma bela canção. Sabendo que não teria um Youtube à mão durante a aula, eu gravei uma versão em MP3 no pen-drive (só isso já traz um ar de anos 2010). Na hora, no entanto, o rádio não leu a música. A solução veio junto com o estimulante de dopamina: meu celular. Botei no Spotify e os alunos ouviram a música ali mesmo, naquela caixa de som que nem é das melhores.
A tecnologia que nos trai é a tecnologia que nos salva.
O tempo e o tempo
O tempo passa, mas o calor não passa.
De acordo com os meteorologistas, a onda de calor deve ir embora nos próximos dias, e ao fim de março as temperaturas estarão mais amenas. O tempo (cronológico) vai passando, e com ele o tempo (climático) vai mudando.
Eu, que adoro ver a previsão do tempo na TV (é meu momento preferido dos jornais), tenho dificuldades de lidar com o tempo. Parece que eu não o vejo passar. Quando me dou conta, ele se foi. E eis-me aqui, tendo que me preocupar em estudar para uma prova que vai chegar logo, sendo que eu andei procrastinando não porque tive preguiça (eu tive trabalho, isso sim), mas especialmente porque achei que a data estava longe.
E quando a gente vê, já se passou mais de um ano do momento em que planejou realizar uma vontade, seja uma viagem, uma tatuagem, ou algo que não termine em “agem”.
Daqui, deste computador que demorou muito mais tempo do que eu gostaria para voltar a funcionar normalmente, sigo desejando que o tempo passe rápido até o fim da semana, quando a mudança prometida no tempo quiçá me permita olhar para o céu sem que seja preciso semicerrar os olhos: só assim para poder observar melhor a passagem dos dias, meses e anos com a clareza que o sol forte não me permite ver.
Convite: vem me ouvir!
Eu falei sobre a premiação do Oscar no Cinem(ação) com o Rafa e o Edu Sacer! Tentei passar meu ponto de vista a respeito da cerimônia e dos prêmios que foram distribuídos na noite.
Você pode escutar aqui, na página do podcast, ou no Spotify, ou em qualquer aplicativo à sua escolha.
Dani, eu durmo longe do meu faz um tempinho agora e foi a melhor coisa q fiz na vida. Sem contar q pra acordar cedo pra ir malhar é a melhor solução já que uma vez em pé a coragem surge rs.